O termo “inflação” tem vindo a ser caracterizado comummente como sendo algo negativo, um monstro da economia que qualquer pessoa deve desprezar e querer eliminar. Um tormento cada vez maior na sociedade, pois toda a gente sabe que a inflação tem níveis estrondosos a cada ano que passa, certo? Ou será que isto não é verdade? Será que este conceito é, na realidade, um inimigo assim tão perigoso como o senso comum nos faz acreditar? Será que uma economia onde a inflação é nula ou mesmo negativa é “mais saudável” do que uma economia onde existe inflação?
Antes de dar resposta a estas perguntas é necessário clarificar o que é a inflação. A inflação é um fenómeno que se dá quando ocorre um aumento generalizado dos preços de bens e de serviços num período prolongado e pode ter várias causas (excesso de procura em relação à oferta disponível, aumento do preço de matérias-primas, aumento da quantidade de dinheiro em circulação, entre outros). Basicamente, o que acontece quando se verifica inflação é que o poder de compra das famílias diminui. O indicador que permite medir a taxa de inflação de um dado país é o Índice de Preços no Consumidor, (IPC) calculado mensalmente pelo Instituto Nacional de Estatística. Para esse cálculo é tido em conta um cabaz de produtos e serviços que são, normalmente, adquiridos pelas famílias (desde produtos alimentares, até rendas de luz ou água). A ponderação para o cálculo do IPC não é igual para todos os bens, sendo que aqueles que possuem um maior peso no orçamento das famílias têm uma maior ponderação.
Agora que este conceito é mais claro, vamos tentar entender se é algo assim tão perigoso na prática. É verdade que é importante para a economia que haja uma estabilidade nos preços. Esta solidez ambicionada contribui para a estabilidade financeira, evita uma distribuição arbitrária dos rendimentos e ajuda a diminuir as incertezas tanto das famílias como das empresas, ajudando-as a tomar decisões de consumo e de investimento, o que contribui para um bem-estar económico. Então para essa estabilidade seria o ideal termos o contrário de inflação? Ou seja, deflação?
A deflação é uma descida generalizada dos preços de bens e serviços, podendo dever-se, entre outros, a uma oferta superior à procura ou a uma descida dos preços de matérias-primas. Apesar de no curto prazo uma descida dos preços significar um aumento do poder de compra das famílias, a verdade é que a longo prazo pode levar a cenários como recessões. Isto porque acontece um adiamento das decisões de consumo por parte das famílias face à expectativa da contínua descida de preços, o que acaba por levar a uma diminuição da quantidade de bens vendidos (ao contrário do que seria expectável à primeira vista com a descida dos preços). Este ciclo pode tornar a deflação em algo bastante perigoso para a economia.
Então, podemos verificar que para que haja equilíbrio não deve haver deflação, mas também não queremos uma inflação demasiado elevada. Então será o ideal ter uma inflação nula? A resposta é não. Quando a taxa é nula, existe um perigo maior de ocorrer deflação. Deste modo, existe, na zona euro, uma preocupação em manter o nível da taxa de inflação abaixo, mas perto, dos 2% (quando ultrapassa esse nível é considerada elevada). Isto acontece devido à necessidade e aos benefícios que advêm da existência de uma taxa de inflação perto desse nível. Esses benefícios assentam no facto de essa ligeira inflação apresentar um estímulo para a economia, levando a que aconteça o oposto de quando existe deflação, mas sem os prejuízos de uma inflação demasiado elevada.
Mas após o complicado ano de 2020, surge uma questão acerca desta temática. Será que a crise económica que vem como resultado desta situação pandémica não levará a uma mudança de cenário? Tem sido feito um bom trabalho na manutenção dos níveis de inflação abaixo dos 2%, mas decerto que passa na cabeça de muitos que com uma crise é inevitável que esta taxa se descontrole. A verdade é que no ano que passou, o IPC foi nulo. Houve algumas subidas de preços nos bens alimentares, mas estas foram “compensadas” com descidas em bens energéticos. O facto de o consumo de bens como o combustível ter diminuído exponencialmente, pois a maioria dos portugueses passou a não precisar de fazer tantas deslocações como antes, e este bem continuar a ter um peso significativo no IPC do ano findo, podem explicar esta taxa nula e a sua diferença com a perceção que os consumidores tiveram da realidade dos preços durante este ano.
A partir de 2021, um estímulo como o da Basuka Europeia poderá induzir um aumento tanto da procura como da oferta, o que poderá levar a um aumento generalizado dos preços. E isso, aliado à entrada de dinheiro em circulação poderá levar a uma subida da inflação. Contudo, a pandemia deixou um rasto de desempregados pelo nosso país, pelo que a procura poderá não ser assim tão elevada. E, além disso, o medo que a doença cultivou, poderá implicar uma descida generalizada na procura de certos serviços com relevante ponderação para o IPC mesmo quando a pandemia se encontrar perto de estar controlada. Estes fatores podem, não só, afastar-nos de uma inflação acima de 2%, mas também aproximar-nos de um cenário de deflação.
Apesar de, ao longo do tempo, a sociedade ter dado à inflação uma denotação negativa, a verdade é que ela é necessária a níveis controlados, e mais desejável do que deflação, para a existência de crescimento económico. Nos últimos anos esta taxa foi mantida dentro dos níveis aconselhados, mas com a situação pandémica o cenário para o futuro encontra-se um pouco turvo. Certas mudanças na ponderação do IPC, tal como a forma como os consumidores irão demonstrar no seu consumo de bens e serviços o “regresso à normalidade” irão ser decisivos para descodificar qual o caminho a seguir em relação à taxa de inflação.
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