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Que futuro esperar do mercado de trabalho?

Em pleno século XXI, o mercado de trabalho dá por si num período de enorme transição, no qual inevitavelmente a incerteza prevalece. Um mercado altamente competitivo, com uma taxa de desemprego ineditamente baixa relativamente à última metade de século, guiado por inovações tecnológicas que colocam a economia mundial em constante mudança.

A PwC estima que o crescimento cumulativo no PIB mundial atinja os 130% até 2050. As economias emergentes deverão registar uma taxa de crescimento 3 vezes superior à observada nas economias desenvolvidas. E a acrescer a tudo isto, um contexto pandémico veio revolucionar a forma como o cidadão comum outrora visualizou o futuro do mercado de trabalho. Não só interrompeu o padrão de empregabilidade que o mundo estava a tomar, como protagonizou uma fusão dos quotidianos com o mundo digital.

Por conseguinte, uma das perguntas mais relevantes da atualidade surge como “Que futuro esperar do mercado de trabalho?”. Para uma melhor compreensão desta questão, será necessário rejeitar o ruído inerente a todos estes dados e abraçar um raciocínio lógico sobre aquilo que podemos aguardar. Assim, sabemos que: é expectável que a economia mundial continue a desenvolver-se exponencialmente ao longo dos anos; é expectável encontrar um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Mas é também expectável que, refletindo as mudanças a que assistimos no paradigma da atenção social, os temas que mais orientem o contexto dos empregos do futuro sejam o “Digital” e o “Sustentável”.

Para explorar a medida em que o “Sustentável” irá impactar o futuro do mercado de trabalho, é fundamental entender que o próprio conceito de Sustentabilidade está atualmente em mudança. Num contexto em que as principais cimeiras mundiais têm como foco o tópico da sustentabilidade ambiental, em que calamidades como a devastação da Floresta Amazónica ocupam o foco dos media, e em que diversas pressões ecológicas se tornam cada vez mais evidentes e impactantes para as comunidades, o tecido empresarial começa a reconhecer a relevância do seu papel neste campo.

Numa breve análise do gráfico, é clara a noção de que, no decorrer dos anos, as empresas integrantes dos grupos N100 (as 100 maiores empresas do mundo a nível de receitas, de entre uma amostra de 4 900 empresas) e G250 (as 250 maiores empresas do mundo a nível de receitas, baseado no Fortune 500 ranking de 2016), adotaram uma abordagem à sua atividade cada vez mais preocupada com causas ambientais e medidas sustentáveis, sendo este facto apoiado no aumento da relevância que este campo adquiriu nos relatórios de gestão das empresas. Para efeitos de clarificação do gráfico, enquanto que em 1993, apenas aproximadamente 13% de empresas G250 reportaram no tema da sustentabilidade, em 2017 esta métrica atingiu já 75%.

Embora estas linhas de evolução sejam suficientes para confirmar o rumo que a tendência do “Sustentável” tem tomado e por onde irá prosseguir, as necessidades da Humanidade associadas à sustentabilidade não se ficam por aqui. Em adição à preocupação ambiental que é progressivamente observada nas empresas, o mundo corporativo atual procura afiliar-se a medidas que tenham em perspetiva um impacto social positivo a longo-prazo nas comunidades – uma outra perspetiva da sustentabilidade com presença ascendente.

A conceção de Futuro das comunidades de hoje, estejam estas mais ou menos focadas no campo tecnológico, inclui invariavelmente o impacto das novas ferramentas atuais. Desde a “Nuvem” ao 5G, passando por “Internet of Things (IoT)” e “BlockChain”, todos estes conectados transversalmente pelo grande conceito associado ao crescimento da inteligência artificial: “Machine Learning”. Sem aprofundar cada um destes conceitos, sabemos na íntegra que todos têm vindo a desempenhar um papel fulcral no desenvolvimento económico e social dos dias de hoje. Estudos da autoria da BCG corroboram esta visão, com um crescimento de 93% a ter sido registado por parte das Tech-100 (índice que agrupa as 100 maiores empresas listadas na bolsa NASDAQ, servindo de benchmark para o setor tecnológico estadunidense) ao longo da pandemia, bem como um extenso impacto diagonal, materializado na simplificação e automatização de diferentes indústrias. A simplicidade proveniente dos avanços tecnológicos ilustra os casos de sucesso conhecidos (como a Apple e a Uber), enquanto o tema da automação, por sua vez, abre portas para um dos tópicos mais controversos da atualidade, bem como um daqueles que tomamos como foco do presente artigo: “Que repercussões tecnológicas podemos esperar a nível de empregabilidade nos tempos que se seguem?”

Estabelecendo assim a ponte entre estes avanços céleres e a incerteza por detrás daqueles que serão os empregos de amanhã, serve como fundação o dado de que 60% das operações levadas a cabo atualmente poderão ser automatizadas até 33% do processo no futuro próximo (McKinsey & Co.). Tal poderá implicar que 400 a 800 milhões de ocupações laborais estão sob ameaça real de serem eliminadas nos próximos 10 anos. Ainda que se preveja que 8-9% das ocupações em 2030 digam respeito a serviços e setores com uma expressão ainda nula no ano de 2022, cuja criação provirá de novas necessidades a nível tecnológico, uma visão mais alargada concede-nos a noção de que estes novos empregos não serão suficientes para contrabalançar a queda nos níveis de empregabilidade que se projeta.

Há, no entanto, noções de construção de futuro a retirar deste facto. Naturalmente, serão os empregos com graus inferiores de educação requeridos os mais suscetíveis a serem despromovidos pela automação. E daí a projeção do impacto revolucionário nos moldes de formação de profissionais, bem como no papel que a especialização em competências técnicas terá para fazer face a um fenómeno altamente multidimensional: económico, cultural e social. Em suma, será necessário reformular o funcionamento do mercado de trabalho como um todo: desde a formação de futuros profissionais, à alocação (ou realocação) dos mesmos de acordo com avanços tecnológicos.

Mas no final de contas, a que conclusão palpável podemos chegar? Já estabelecido que temas como a digitalização e o impacto social farão parte do vocabulário corporativo nos tempos que se aproximam, como podemos estabelecer a ponte entre estas temáticas e aquilo que será esperado dos trabalhadores do futuro?

Um estudo concretizado pela FEP Junior Consulting junto dos seus principais stakeholders, incluindo-se neste grupo de amostra colaboradores da organização, empresas parceiras, clientes antigos e atuais, e Conselho Alumni, focou precisamente na questão da associação das tendências identificadas às capacidades-chave num profissional de futuro nos próximos anos, estabelecendo para tal um horizonte temporal relativamente curto.

Contudo, alterando a premissa temporal para a questão colocada, as capacidades-chave selecionadas tomam outro rumo. Estabelecendo agora uma meta de pensamento fixa em 30 anos no futuro, as projeções para as competências que mais irão valorizar um profissional de excelência divergem parcialmente da tendência identificada na figura anterior, surgindo assim um top 4 especialmente relevante neste contexto:

É possível estabelecer um termo de comparação entre o resultado deste estudo quando comparado com tudo aquilo foi previamente relatado. Efetivamente, uma quantidade em massa de cargos empresariais e industriais será satisfeita através de trabalhadores detentores de fortes componentes técnicas, muitas vezes até no ramo do impacto social. No entanto, a supremacia daqueles dotados de know-how elevado não trará, no fundo, nada de novo comparativamente à atualidade. Numa análise focada no futuro, e recorrendo aos tópicos previamente explorados ao nível de automação e sustentabilidade, é comprovável com um elevado grau de clareza que a grande constante a reger a evolução social nos próximos anos, e a base comum de acordo com a qual as comunidades podem planear aquele que será o futuro do mercado de trabalho é uma: a mudança.

E é precisamente face à mudança, provavelmente mais acelerada e impactante do que em qualquer período prévio da História da Humanidade, que surge a necessidade absoluta de “ser mais” do que competências técnicas. De desenvolver um skillset ágil e preparado para lidar com rápidas transformações, já que nunca foi mais certo que elas surgirão. Daí, as competências-chave, para além da aptidão efetiva. Daí, as competências-chave, que serão decisivas para o papel individual a realizar no mercado de trabalho, mas também para o papel a realizar na sociedade como um todo. Daí, Inteligência Emocional e Adaptabilidade, visto que não haverá margem para aversão à mudança numa realidade repleta de rotatividade e cada vez mais desafiante. Daí, a capacidade de Problem-Solving, sendo esta a estrutura psicológica de excelência para lidar com um contexto onde a complexidade será subjacente a todas as temáticas. E daí, e finalmente, a Capacidade de Liderar, que aliada às três anteriores, ditará os indivíduos aptos para ativamente tomarem as rédeas e comandarem um mercado de trabalho em constante mudança para um futuro onde toda a mudança é sinónimo de evolução.

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Autor

Guilherme Mariz

Equipa Qualidade

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