Fast Fashion

Consumir mais ou consumir conscientemente?

Ao comprar uma peça de roupa, deparamo-nos com um paradigma que se divide em dois extremos. Por um lado, temos os produtos mais baratos que permitem comprar em maior quantidade com um orçamento constante, embora a sua qualidade possa ser comprometida, o que resulta numa menor durabilidade e maior probabilidade de danos. Por outro lado, os produtos mais caros apresentam uma maior qualidade e durabilidade, sendo produzidos de forma ética e sustentável, fatores que justificam o seu custo mais elevado. Assim, é importante avaliar cuidadosamente as opções disponíveis e ponderar sobre a relação entre qualidade, preço e impacto ambiental e social no momento da compra de uma peça de roupa.

Fast Fashion

Fast Fashion é um método de design, fabrico e comercialização centrado na rápida produção de grandes volumes de vestuário, assentando na produção e venda de peças de roupa a preços tão baixos que permitem às pessoas comprarem roupa nova com mais frequência Este fenómeno contribuiu para uma significativa redução no número médio de vezes que um item é usado.

Atualmente, vivemos numa sociedade caracterizada por um padrão impulsivo de consumo, um modelo de mercado que surgiu como “uma solução para a crise de petróleo”, ou seja, uma estratégia para conseguir escoar a produção durante a crise dos anos 70. Este modelo veio revolucionar as indústrias, através da urgência de lançar coleções e tendências em tempo recorde aos preços mais acessíveis.

As condições precárias dos trabalhadores da indústria têxtil nos países subdesenvolvidos, nos quais a mão de obra tem menor custo, já datavam do século passado. No entanto, a consciencialização da população para esta problemática só surgiu em 2013, após o desabamento do prédio Rana Plaza, em Bangladesh, que alojava uma fábrica de tecidos e resultou na morte de cerca de 400 pessoas. A tragédia expôs as condições deploráveis em que os funcionários trabalhavam, evidenciando a falta de segurança, higiene e direitos laborais. Este evento teve um impacto significativo na indústria da moda, aumentando a pressão sobre as marcas para melhorar as condições de trabalho dos seus fornecedores e garantir a ética e a sustentabilidade em toda a cadeia de produção.

A problemática do Fast Fashion surge associada a fenómenos como a Black Friday, onde se promove cada vez mais a compra de produtos de vestuário não necessários, por preços mais baixos, levando a uma geral desvalorização das peças de roupa e consequentemente tornando-as cada vez mais descartáveis. Embora a gravidade desta problemática tenha sido potenciada pela geração Z, onde o crescimento das plataformas que promovem a Fast Fashion foi exponencial, há estudos recentes que mostram que esta geração apresenta uma alteração dos seus hábitos de consumo, podendo-se até afirmar que está a “ficar de costas voltadas” para a Fast Fashion. A crescente preocupação ambiental desta geração tem sido a causa mais frequentemente apontada para corroborar este facto.

Deste modo, esta é a geração que mais adota comportamentos que tendem a abrandar a problemática em questão, nomeadamente através do aluguer e do consumo de roupa em segunda mão.

O futuro da Fast Fashion

O tipo de material utilizado, a mão de obra, o impacto económico e ambiental inerentes ao processo produtivo são alguns dos fatores que podem ser elencados como preponderantes na decisão de aquisição de peças de roupas pelos clientes. Este panorama tem imposto a alteração do comportamento de grandes cadeias de moda ligadas à Fast Fashion, levando ao aparecimento de novas tendências, desde o lançamento de peças conscious e coleções orgânicas até à moda on demand.

Atualmente, inúmeras indústrias de moda têm vindo a ser alvo de críticas relativamente aos preços que praticam, resultantes dos custos de exploração dos trabalhadores e das práticas de mão de obra infantil. Assim, quanto maior for o grau de conhecimento e acesso à informação do consumidor final, maior a probabilidade de este adotar práticas mais sustentáveis, realizando, desse modo, um consumo mais responsável. Por conseguinte, também o futuro da moda começa a mudar, surgindo, na linha horizonte, uma nova era caracterizada pela dominância de tecnologias de ponta, por uma maior consciencialização dos benefícios em fomentar uma economia circular do vestuário.

Impacto Social

Se, à data de hoje, cada um de nós olhar para as etiquetas da roupa que tem vestida, vai perceber que grande parte é produzida em países subdesenvolvidos, como o Bangladesh, Camboja, Paquistão, entre outros. Estes mesmos países são caracterizados pelas condições precárias de trabalho, tanto pela remuneração (que em muitos casos é considerada 3,5 vezes menor do que o necessário para uma vida decente, na qual apenas são cumpridas necessidades básicas), como pela quantidade de horas de trabalho de cada um dos operários.

Em suma, o atual ritmo de consumo cada vez mais célere tem levado à necessidade de se produzir em ciclos mais curtos, que, por sua vez, geram maior pressão nos recursos existentes, resultando em linhas de produção que colocam os lucros à frente do bem-estar humano.

Impacto ambiental

A Fast Fashion tem tido variadas implicações a nível social e ambiental. A título de exemplo, esta indústria é a 2ª maior consumidora de água, gastando cerca de 200 toneladas de água para tingir 1 tonelada de tecido. Por outro lado, com a lavagem da roupa sintética são também libertadas quase 2 mil microfibras, que posteriormente acabam no mar e são confundidas pelos peixes por alimentos.

Outros aspetos negativos a atentar prendem-se com a dependência de combustíveis fósseis para a produção das fibras sintéticas, assim como o uso intensivo de pesticidas no processo produtivo de algodão, ambas matérias-primas incorporadas nas peças de vestuário.

Além de todas estas problemáticas inerentes à sua produção, o ciclo de vida das roupas é também extremamente curto, o que leva ao constante descarte dos produtos, conduzindo à descartabilidade precoce de muitas peças em aterros sanitários.

Medidas políticas para alterar comportamentos

No início de 2022, a Comissão Europeia apresentou um pacote de medidas com o objetivo de, até 2024, estabelecer normas de produção sustentável no território europeu, incentivando a economia circular e capacitando os consumidores para a transição verde. Estas medidas incluem propostas de regras, por forma a tornar os produtos que circulam no mercado europeu mais amigos do ambiente.

Além disto, existe o objetivo de, até de 2030, se criarem restrições à Fast Fashion, através de novas regras de design ecológico que preveem que as empresas contabilizem a quantidade de produto que não é vendido, para combater os resíduos têxteis. Uma outra medida passa também pela incorporação, por parte das fábricas, de uma certa quantidade de conteúdo reciclado nos novos produtos ou restringir o uso de materiais que os tornam difíceis de reciclar.

O que podemos fazer?

  1. Consumir em menor quantidade e valorizando mais a qualidade.
  2. Tentar dar uma segunda vida à roupa que já não usamos ou recuperá-la, caso seja possível.
  3. Doar, sempre que possível, ou vender o que já não usamos.
  4. Diminuir a frequência das lavagens.
  5. Comprar roupa em segunda mão.
  6. Optar por marcas de roupa sustentáveis e éticas, apoiando projetos nacionais semore que possível.
  7. Optar por tecidos com menos impacto ambiental, como linho, cânhamo, lyocell, seda selvagem ou fibras recicladas.
  8. Reduzir o consumo.

O que as marcas podem fazer?

  1. Aumentar o uso de transportes sustentáveis.
  2. Utilizar material sustentável e reciclável nas embalagens.
  3. Reduzir a superprodução.

 

Tendo em consideração todos os problemas e malefícios da Fast Fashion e a maior consciencialização da sociedade para esta problemática, têm vindo a surgir movimentos e novas formas de consumo, como a Slow Fashion. Esta alternativa é caracterizada por ser sustentável quer a nível económico e ambiental, como também a nível social, pelo facto de cada peça trazer em si uma história, justificada pela qualidade e origem ecológica das suas matérias-primas. Assim, esta iniciativa permite o prolongamento da vida das peças produzidas, contribuindo assim para uma mudança no paradigma da indústria, onde a qualidade é mais valorizada que a quantidade.

Ana Gonçalves

Margarida Aragão

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